quinta-feira, 24 de abril de 2008

Silêncio

Depois da música, o silêncio...
Vejo-te agora, deitada a dormir.
Um anjo desceu à Terra, mas a viagem foi longa e vinha cansado.
Descansa, deixa-me olhar-te e ser feliz...

sábado, 19 de abril de 2008

O piano

Sentado numa cadeira solitária, a pensativa mente faz aquilo para que nasceu: pensa. A vida corre lá fora. Corre mesmo. O mundo não pára e é compreensível que não faça. À velocidade a que corre, se parasse capotava: “Adeus mundo!”. E a solitária mente pensativa pensa sobre o mundo, sobre os outros, sobre si. Onde está, nada mexe, nada muda, tudo fica como está e ele não se importa. É assim, mesmo ao seu jeito. Mas as pessoas, às vezes têm o hábito de se preocuparem com os outros, e alguém repara na mente que pensa sozinha na sua cadeira. Esse alguém entra e traz consigo música. A música enche o quarto e destrói a cadeira fazendo-o levantar-se. Com a música vem o canto, qual sereia que encanta mas não mata. Não se mata algo que está já morto. Bem pelo contrário, a música e o cantar despertam a vida já esquecida que dormia dentro da mente, que deixa de pensar por instantes. Aquela pessoa que invadiu o espaço sossegado da pequena e desprotegida mente pensadora ressoa harmonia e luminosidade. Aos poucos, a mente começa a soltar-se, a sentir em vez de pensar, a pensar mais no plural. Aos poucos, a nova entidade e a mente começam a dançar. Aos poucos, os pés, quatro, unem-se em dois. Aos poucos, as mãos e os braços reduzem-se, as cabeças perdem os ‘s’, os corações batem sincronizadamente. Aos poucos, a mente torna-se uma só com a outra pessoa.


O piano toca. O som enche o quarto, sem cessar. Cada nota transporta um novo pensamento. A mente, habituada a enviá-los e não a recebê-los, olha com ar desconfiado quem dedilha com delicadeza as teclas. Em resposta lança pensamentos seus para o meio da música. A melodia torna-se numa estranha confusão e não se percebe nada. A harmonia está perdida. A cena dura algum tempo, até que uma nota bate certo com outra. Uns segundos depois, mais uma que se enquadra perfeitamente na pauta. Mais uma, e outra, e mais notas vão-se sincronizando, resultando numa nova melodia, diferente, mas melhor. Uma melodia, também ela a dois. O piano continua a tocar, ouvem-se as vozes, ouve-se a harmonia, a perfeição, ouve-se música. Agora, no quarto obscuro da mente solitária e pensativa, vive-se como nunca se viveu antes. Vive-se menos com a mente, mais com o corpo, mais com a alma, vive-se mais com o coração.


Aqui, neste pequeno quarto, a música enche o espaço e faz-nos sentir pequenos. Aqui, a música fala por nós, dá-nos significado e retira-nos a necessidade dele sem que deixe de existir. Aqui o mundo lá fora parece mais pequeno, tudo encolhe perante a imponente melodia proveniente do piano. O piano, somos nós que o fazemos…


The poetry
That comes from the squaring off between,
And the circling is worth it,
Finding beauty in the dissonance.”


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