quarta-feira, 18 de junho de 2008

Sombra (II)

E então veio a verdade, e com ela veio desgosto. E o desgosto consumiu-me por momentos, mas a sua fonte era saudável, e o desgosto foi pelo seu criador consumido. A verdade veio, e trouxe consigo o desgosto, mas foi-se o desgosto e permaneceu a verdade. A confiança, a aura, a fé, mantiveram-se e cresceram. E então, com o desaparecimento do desgosto, veio a dúvida, circundada por uma grande sombra negra, cujo semblante era triste e preocupado. E a sombra crescia, e apesar de inicialmente tentar fazer-lhe frente, deixei que crescesse, enquanto via perplexo, o tamanho que tinha atingido. A sombra, grande e negra, começou então a diminuir o seu tamanho, lentamente, porquanto começou a engolir a aura na qual habitava. A aura de fé e confiança. E eu, sem fazer nada, quase com gosto, vi-a devorar a minha convicção e abalar a minha fé, tal como tinha sido profetizado. Resignado, falei-lhe, dizendo: "Então vens assim, tal como me tinhas anunciado, para que tudo aquilo em que acredito caia por terra, a meus pés, e o desgosto volte, alimentado pela dúvida e desconfiança que crescem dentro de mim? Diz-me, não poderias tu deixar de me comer a fé? Não o podes parar? Vejo o teu semblante. Estás triste, e há preocupação no teu rosto. Não desejas o que fazes, pois não? Não o podes parar?" E o rosto triste da sombra ficou especialmente negro, e respondeu assim: "Não. A resposta é não. Não, não posso deixar de te comer a fé, não o posso evitar. E não, não desejo fazer aquilo que faço." E levantando a voz perguntei-lhe: "Porquê? Porque não o podes fazer?" E a sombra, baixando a cabeça disse em tom baixo: "Não o posso parar, pois és tu quem me conduz. Tu é que me guias enquanto te devoro a fé. A tua fé está nas tuas mãos, só tua a salvas, só tu a destróis. Eu sou apenas o instrumento do qual te serves para te auto-destruíres." Aí, quebrando em lágrimas gritei interrogando: "Rogo-te, diz-me, por favor, diz-me, como paro eu a mim mesmo? Eu não quero perder a confiança, não quero perder a fé, não me quero perder a mim com elas." E a sombra, num murmúrio quase inaudível disse-me ao ouvido, de novo: "Tu, neste momento, não te salvarás por tua mão. A fonte da minha força será a fonte da tua. Usa-a e terás salvação." E eu, fiquei perplexo, olhando a minha fé ser consumida, sem saber como me parar a mim mesmo.

26 de Maio de 2008
An0rMaL_DoX6070
(II)

2 comentários:

Ti disse...

E este, não fica atrás do primeiro :)

disse...

Às vezes é mais cómodo ficarmos a ver-nos cair no abismo....às vezes é mais fácil não mexer um único membro...acho que estes "às vezes" entram demais na nossa vida...mas depois lá está alguém que tds os dias bate à nossa porta e nos diz, chega destes "às vezes!"... bem ditos sejam esses que andam por aki!

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p.s. - agr vou pa o terceiro xD!!!