quarta-feira, 25 de junho de 2008

Sombra - Luz (III)

E então veio a verdade, e com ela veio a sombra, e a sombra devorou-me a fé e confiança que me alimentavam, e eu fiquei a ver, e caía aos poucos. A enorme sombra não tem fim. Não tem princípio nem fim. Existe, e é tudo. O desespero tomou o lugar da confiança, e a loucura veio depois dele. A insanidade apoderou-se de mim. Existia, e era tudo. Então virei-me de novo para a sombra negra e disse, desabafando: “Bem sei que não o poderás evitar a menos que eu to ordene, mas isso já eu fiz e estou pior. Não poderás mesmo, pôr termo a esta loucura?”. E a sombra, surpresa, respondeu-me: “Acaso tens estado a dormir? Lembro-me de te ter dito que o teu problema és somente tu. Não me dás ouvidos? Lembro-me também de ter-te dito que aquilo que me dá força para crescer, dar-te-à força para me combateres, mas tu não pareces ouvir. Tu não queres ouvir!”. E a sua voz estrondosa, qual raio que rasga os céus, derrubou-me e deixou-me estarrecido, deitado no chão de mim mesmo. Olhei em volta, mas não via nada. A sombra era tudo. Disse-me ainda: “Está visto, não tens salvação. Ouve-me: Onde há sombra, terá de haver a luz que a cria. E dela nasce a sombra que enche este lugar. A luz que me cria será a luz que me destruirá. Mas não enquanto continuares a lamentar-te e a pedir ajuda. Levanta-te, concentra-te na luz e ela te ajudará.” Estupefacto, perguntei de volta: “Porque me dizes tu isso? Sabes que assim serás apagada e deixas de existir. Não tens medo de deixar de ser?” e a sombra riu e disse:
”Tu não ouves mesmo! Eu disse-te antes, que nunca, ninguém me conseguiu extinguir, e que esperava que fosses o primeiro, mas não serás, vejo-o agora. Eu nunca deixo de ser, eu sou, e sempre serei. Podem reduzir-me a algo insignificante, mas nunca ninguém me extinguirá”. Ouvindo isto, pus-me de joelhos e a custo, procurei a luz por que esperava. Lá estava ela, por detrás da sombra, tem que haver uma luz. A sombra não existe sem luz, e toda a luz cria a sua sombra. A sombra nasce da luz, e ela a destrói. Concentrei-me na luz que dantes me dava confiança e na qual eu depositava a minha fé, e lentamente, a sombra foi diminuindo, entre gritos de dor e agonia, meus e dela. No entanto, não desapareceu por completo. Ainda continua lá dentro, uma pequena réstia que insiste em crescer de vez em quando, mas contra a qual encontrei a salvação, a luz que a cria, e que me guia a mim. Talvez um dia a luz me invada de tal maneira que deixe de haver sombra, ou sequer sombra de sombra. Até lá ela vive, e eu vivo com ela.

E então veio a verdade, e com ela veio uma sombra. E atravessando-se no meu caminho disse-me ao ouvido: “Bom dia caminhante. É tua toda esta aura que aqui sinto? Possuis tu uma convicção tão fortemente inabalável?” E eu, sorrindo, disse: “É minha. Esta é a convicção pela qual vivo. Esta é a aura que de mim sai, que me suporta de pé.” E disse isto sorrindo, feliz de mim mesmo. Mas aquela sombra, cujo semblante era amistoso e contente, ficou subitamente triste e preocupada. E vendo-a triste, vendo-a preocupada, perguntei: “Que foi? Não achas grandiosa a minha convicção? Não te dá gozo ver a forma como tenho vindo a crescer fé dentro de mim?” E com o mesmo semblante, preocupado e triste, disse-me em resposta: “Tu , cuja convicção e fé são inabaláveis, serás posto à prova, e aí se verá bem, aos olhos do mundo, aquilo que valem as tuas certezas. E então, serão também postos à prova os teus ideais e o teu carácter, e sairás desse caminho, provando que tens uma fé inabalável, ou pelo contrário, provando que, engrandecendo a tua fé, engrandeceste a tua queda e ruína.” E eu, confiante e com firmeza, disse enchendo o peito: “Velha sombra, a minha provação já veio e já foi. Aquilo que dela sobrou ajuda-me agora a lidar contigo, sempre que voltas. Tu não existes, apesar de não deixares de existir. És um pedaço do que outrora foste, e não me assustas mais. Mas obrigado, o teu conselho, sabê-lo-ei aproveitar. E quando chegar a minha prova, sairei deste caminho, provando que tenho uma fé que, não sendo cega, é inabalável como digo.” E a sombra sorriu, voltando ao seu ar amistoso e contente, e partiu para longe, deixando-me prosseguir o meu caminho em sossego.


2 de Junho de 2008
An0rMaL_DoX6070
(III)

2 comentários:

disse...

a minha luz é a minha verdade!
aquilo em que acredito...a minha fé em tudo o que me rodeia...e tudo o que me rodeia tem o seu quê que todos os dias me dá força...
Às vezes basta só uma tarde a falar ou em busca de gelados xD...outras apenas o beijo de bom dia da minha mãe! estas são algumas das minhas verdades, isto faz parte de mim e é isto que me permite existir cm pessoa!
Obigada por fazeres parte da minha verdade, e por isso obrigado por me dares força para combater tds as minha sombras!

bjao*****

Ti disse...

E tu provaste que as sombras que chegam, sem se saber de onde, são apenas provas vindas do nosso interior! Mais que isso, provaste que tu, como qq outro com um pouco de convicção, consegue iluminar a sombra, deixá-la para trás!


Mias uma vez, brilhante!
Consegues simplificar tudo o que é difícil, gosto!

Para o infinito e mais além, Buzz!